Peço A Palavra

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Location: Rio de janeiro, RJ, Brazil

Wednesday, August 30, 2006

A famosa dentadura do seu Geraldo.

Como em época de Copa do Mundo o Brasil pára, estávamos lá, parados, na Alzirão, famosa rua do bairro da Tijuca, assistindo a mais um jogo da nossa seleção. Marcelo, Marcos, o avô do Marcos, seu Geraldo e eu, os quatro no meio daquela multidão. Brasil contra Turquia. Os turcos logo fizeram o primeiro gol, o que desmotivou a torcida presente. Mas seu Geraldo não perdia a esperança. Dizia que a seleção viraria a partida. Não deu outra: o Brasil empatou. Seu Geraldo fora o primeiro a gritar gol, e eu só vi sua dentadura sair da boca e levantar vôo de tal forma que parecia coisa de desenho animado. Enquanto a dentadura aterrisava, a torcida pulava com o gol. Seu Geraldo ficou desesperado atrás de sua dentadura. Marcos, Marcelo e eu ficamos comovidos com aquela situação. Procuramos no meio da multidão e nada. Quase no final, ainda procurávamos pela dentadura. De repente, mais um gol da nossa seleção. Nossa torcida voltou a mostrar seu entusiasmo e nós, nossa raiva.
Fim do jogo: o Brasil venceu a partida, nós perdemos o jogo e seu Geraldo, a dentadura.

Eu sou normal!!!

O céu está nublado. Não faz calor nem frio. Tempo ideal para sair por aí. Dirigo com a janela aberta. O vento no rosto dá uma baita sensação de liberdade. Ah, que delícia de liberdade!
O sinal fechou, eu parei. Olhei para minha direita e vi um sujeito de meia-idade com o dedo no nariz sem cerimônia alguma. Estava tão concentrado na sua limpeza que a qualquer hora poderia retirar seu cérebro ali mesmo. Enfim, deixei o cidadão em paz e virei-me para esquerda. Encontrei uma senhora maquiando-se na infinita e cega esperança de aparentar seus vinte anos já distantes. Era tanto pó na cara que, mesmo eu estando um pouco distante, cheguei a tossir algumas vezes. Entre uma tossida e outra, vi pelo retrovisor que atrás de mim havia uma menina que cantava uma música ( que não consegui identificar) como se estivesse no chuveiro de casa tomando um banho gelado num dia quente de verão.
Depois de presenciar tudo isto, senti-me como o único ser humano normal sob a face da Terra! Eu apenas estava ali esperando tranquilamente o sinal abrir. Somente isto.
Com o trânsito autorizado a seguir em frente, retornei à realidade. Voltei a ser Jorge, o louco que acabara de fugir do hospício furtando a ambulância da instituição.

Saturday, August 26, 2006

Chuva III

Além dos problemas comuns às grandes cidades, São Paulo tem-se preocupado muito com as chuvas torrenciais que vêm castigando a metrópole paulista nas últimas semanas, como se o trânsito caótico e a violência urbana não bastassem.
Segundo as autoridades, o que tem chovido (nas últimas duas semanas) corresponde ao que choveu durante o ano passado inteiro. E a tendência é que esta chuva não pare tão cedo. Por isso, foi implantada a "operação dilúvio" - que consiste em informar a população sobre locais de risco e mostrar como proteger-se das fortes chuvas.
É claro que a ajuda das autoridades é importante. Porém, os paulistas rezam é por uma ajuda divina. Alguns nem lembram mais o que é um dia de sol.

Chuva II

Não é lenda. Carioca odeia chuva. A maioria da pessoas não gosta, é verdade, mas quem nasceu na cidade do Rio de janeiro tem seus motivos para (mais do que não gostar) odiar chuva: é a praia vazia, a pelada do final de semama adiada, as pessoas presas em casa,... ou seja, razões não faltam para tal sentimento.
Devido a esta constatação, estudantes de Sociologia da UFRJ, por conta própria, fizeram uma pesquisa para descobrir que tipo de chuva os cariocas detestam mais e o porquê desta opinião. Ao final, viu-se que a chuva fina com vento forte é aquela que mais tira os cariocas do sério pelo fato de ser um tipo de chuva que demora a passar. Fora o vento, que faz os cariocas dizerem que a chuva é "chata".
Ou seja, os cariocas até suportam uma chuva forte, desde que ela não dure nem cinco minutos.

Chuva I

A cidade de Belém do Pará possui atrativos que, cada vez mais, despertam o interesse de turistas nacionais e internacionais. Porém, aquele que chega procurando bares, museus e belos atrativos sempre vai embora falando mais da chuva de Belém do que de qualquer outra coisa, por mais estranho que isto possa parecer.
A fama desta chuva é grande. Quem é de Belém, já sabe. Quem chega, passa a saber. O curioso é perceber a razão de tanto sucesso. Todo dia chove em Belém, e na mesma hora, por volta das 17 horas. E não é apenas isso: as pessoas marcam seus compromissos de acordo com a chuva, ignorando as horas. O sujeito não diz que estará lá às 18:30 e sim que estará lá depois da chuva.
Eis o poder da chuva de Belém do Pará. Uma chuva que vem todo dia, na mesma hora e que é o referencial de toda uma cidade.

O estranho do primeiro dia.

Do pouco que conheço do sujeito que está sentado a meu lado, seu nome faz parte da lista das coisas sobre ele que ainda descobrirei. Questão de tempo, convivência.
Por falar em tempo, eis algo que ele deve ter de sobra. Toda vez que chego para a primeira aula, lá está o cidadão esperando o professor adentrar a sala como se lá tivesse dormido desde a última aula do dia anterior. Sempre com sua fiel e inseparável mochila, fulano (prometo aprender seu nome) chega com todos os trabalhos de casa feitos e ainda ajuda os que nada fizeram (olha eu aí!).
Ele apresenta-se como um ser humano calmo, tímido, cheio de vergonhas. Estes são os piores!

Friday, August 25, 2006

Avanços e atrasos

A independência feminina é notória. Inegavelmente, a importância da mulher dentro do mercado de trabalho cresce a cada dia. Espaços, até então inatingíveis, são conquistados com capacidade e competência. Porém, esta busca, que iguala homens e mulheres, também traz problemas.
De acordo com a pesquisa realizada pela organização não-governamental MEM (Mulher por Ela Mesma) - que visava descobrir o principal motivo que leva um adolescente de classe média-alta a entrar na criminalidade - 70% deste fato deve-se à falta da presença do pai ou da mãe no dia-a-dia do filho. Com ambos trabalhando (antes a mulher tomava conta da casa e da educação da criança), os amigos tornam-se, para o jovem, a voz a ser ouvida e, muitas vezes, estes amigos não são tão amigos assim. Na mesma pesquisa, constatou-se que 20% deste desvio tem origem na impunidade e 10% no interesse em sentir o proibido.
Com este estilo de vida que a mulher possui nos tempos modernos, é sempre bom ter em mente que uma conquista não pode significar a perda de parte de uma geração.

Thursday, August 24, 2006

A lição

Mais uma manhã de terça-feira. Uma tranqüila manhã por ser um feriado desses que decoram lindamente nosso calendário. Uma manhã ensolarada cujos frágeis raios solares invadem um pequeno apartamento localizado no bairro das Laranjeiras. Nele encontra-se seu dono, o escritor Senegóid Ramos, colunista do jornal Palavra livre. Homem de meia-idade, sempre de bem com a vida e que sabia como tratar as palavras, Senegóid era um exemplo dentro do seu campo profissional. Porém, naquele feriado, acordou apreensivo. Era dia de escrever sua coluna (que sai toda segunda e quarta). Nada demais, se seu computador não estivesse no conserto. Sendo assim, o escritor não teve outra opção: sentou-se à mesa, voltou a sentir aquele cheiro de papel de caderno escolar, desencavou uma velha caneta Bic esquecida no fundo de uma das gavetas do seu armário e a empunhou para, naquele universo branco, expor sua caligrafia há tempos escondida. Entretanto, não passou da segunda linha. A caneta começara a falhar para seu desespero. Senegóid revirou o apartamento inteiro atrás de uma caneta, fosse ela preta, azul, verde, amarela, rosa, vermelha... o importante era escrever sua coluna. No meio da bagunça, ele parou e lembrou de alguns dias atrás, quando passou em frente a uma papelaria e pensou em comprar uma caneta para retornar ao velho hábito de exercitar sua escrita da forma mais habitual. Não comprou por depender do computador para produzir sua coluna. Deu o que se deu.
Senegóid foi ficando cada vez mais nervoso. De tanto roer os dedos das mãos, machucou-se e , com sangue, pensou na possibilidade de escrever com seu próprio sangue. Logo em seguida, lembrou dos vizinhos. Os vizinhos? Todos estavam viajando. Não havia para quem pedir socorro. Lembrou-se, então, do seu primo Arístoles que tinha um computador. Entrou em contato com ele e, pelo telefone, ditou sua coluna para o primo que, após escrevê-la, enviou-a para a redação do jornal.
No final, entre mortos e feridos, todos se salvaram. Mas nem por isso Senegóid deixou de comprar várias canetas e blocos no dia seguinte e voltar a escrever de próprio punho e por conta própria.

Um dos únicos bens que a miséria não extingue é a solidariedade.

Apesar de tanta pobreza, percebe-se que a solidariedade é um dos únicos bens que a miséria não extingue, pois ela independe do nível sócio-econômico das pessoas. São nos exemplos de Jesus Cristo, São Francisco de Assis e Madre Tereza de Calcutá, entre outros (gente que, mesmo sem recurso financeiro, ajudou, e muito, a humanidade), que algumas pessoas se espelham nos dias de hoje.
Quando fala-se sobre alguém que possui verba disponível para ajudar quem realmente necessita, é possível sentir uma obrigatoriedade no ar. Não com aquele que precisa, mas consigo. É a obrigação do cidadão. Não em ser solidário ao outro, mas em construir sua própria imagem perante a sociedade. Para este tipo de ser humano, pouco importa quem será ajudado e como esta ajuda será feita. O que vale é, no fim de tudo, poder dizer que fez sua parte.
Enquanto uns distorcem as lições deixadas por Jesus, São Francisco, Madre tereza e companhia, outros seguem fielmente seus exemplos. Pessoas pobres que, mesmo beirando a miséria, sempre ajudam aquelas que estão na mesma situação ou piores até. Nesta espécie de solidariedade não há má vontade, não há obrigação nem falsidade. O que há é o ato de ser solidário na sua inocência, na sua mais bela forma.
Como é possível ver, a solidariedade não depende de ter ou de não ter como ajudar. Ela é um dos sentimentos mais humanos, tanto quando visa o bem do próximo como quando busca, com tal atitude, interesses próprios.

Sunday, August 20, 2006

"Cíntia Cidadões"

Eu fui testemunha ocular do fato. Ninguém me disse, eu estava lá, naquela conceituada unidade de ensino, com estes olhos e principalmente com estes ouvidos que identificaram o acontecido.
Eu era mais um entre os quarenta e dois alunos daquela sala situada no terceiro andar do Colégio Futuros Cidadãos. O ano? 1997. Como todo colégio e toda sala de aula, cada aluno tinha características marcantes: havia o esportista, o músico, o puxa-saco... e lógico, o inteligente, que no caso era a inteligente. Seu nome? Cíntia. Menina estudiosa que dava show tanto para sanar alguma dúvida própria quanto para explicar o que ela já entendera. Mas, explicar o quê se ela era aluna e não professora? Isto era algo que manchava sua imagem diante da turma e até de alguns professores. Às vezes o assunto nem era com ela, porém sempre dava um jeito de mostrar o que achava. Uma menina até bonita mas que, devido a este jeito de ser, caiu em desgraça culminando num dia histórico.
Mais um dia de aula. Estou eu sentado no fundo da sala (normal) enquanto Cíntia encontra-se praticamente colada à mesa da professora. Aula de História vai, aula de História vem e Cíntia tem uma dúvida. Professora Ana, que já conhecia a fama da menina mas até gostava, foi toda ouvidos:
- Ana, eu estou com dúvida em relação ao meio de vida dos CIDADÕES brasileiros do séc. XVIII.
Não só eu mas toda a sala ficou olhando-se com cara de espanto. Como? A Cíntia? Falando "cidadões"? Professora Ana disfarçou mas parecia não acreditar no que havia escutado, tanto que pediu para Cíntia falar novamente qual era sua dúvida. E Ana ouviu mais uma vez aquele "cidadões" sonoro. Os promeiros risinhos começaram a aparecer (inclusive o meu) e deram origem a um meigo apelido: Cíntia Cidadões.
Demorou mais de uma semana até Cíntia perceber seu apelido e a razão do mesmo. De repente, ela viu o colégio inteiro chamando-a de Cíntia Cidadões. Até hoje pergunto-me como ela não lembrou do nome do colégio (Futuros Cidadões) antes de soltar aquela pérola. Uma pérola que não a deixou nem um pouquinho mais bonita.